sexta-feira, 26 de setembro de 2008

CÂNON BIBLICO

O Cânon da Bíblia e sua evolução histórica

Cânon ou Escrituras canônicas é a coleção completa dos livros divinamente inspirados, que constituem a Bíblia.
Cânon é palavra grega, e significa, literalmente, "vara reta de medir", assim como uma régua de carpinteiro. No Antigo Testamento, o termo aparece no original em passa­gens como Ezequiel 40.5: "Vi um muro exterior que rodea­va toda a casa e, na mão do homem, uma cana de medir, de seis côvados, cada um dos quais tinha um côvado e um palmo; ele mediu a largura do edifício, uma cana, e a altu­ra, uma cana."
No sentido religioso, cânon não significa aquilo que me­de, mas aquilo que serve de norma, regra. Com este senti­do, a palavra cânon aparece no original em vários lugares do Novo Testamento:
"E a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus" (Gl 6.16).


"Nós, porém, não nos gloriaremos sem medida, mas respeitamos o limite da esfera de ação que Deus nos de­marcou e que se estende até vós" (2 Co 10.13).
"Não nos gloriando fora de medida nos trabalhos alheios, e tendo esperança de que, crescendo a vossa fé, seremos sobremaneira engrandecidos entre vós, dentro da nossa esfera de ação" (2 Co 10.15).
"Todavia, andemos de acordo com o que já alcança­mos" (Fp 3.16).
A Bíblia, como o cânon sagrado, é a nossa norma ou re­gra de fé e prática. Diz-se dos livros da Bíblia que são canônicos para diferençá-los dos apócrifos. O emprego do ter­mo cânon foi primeiramente aplicado aos livros da Bíblia por Orígenes (185-254 d.C.)

I. O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

Na época patriarcal, a revelação divina era transmitida escrita e oralmente. A escrita já era conhecida na Palestina séculos antes de Moisés; a Arqueologia tem provado isto, inclusive tem encontrado inúmeras inscrições, placas, si-netes e documentos antediluvianos. O Cânon do Antigo Testamento, como o temos atualmente, ficou completo desde o tempo de Esdras, após 445 a.C. Entre os judeus, tem ele três divisões, as quais Jesus citou em Lucas 24.44 -LEI, PROFETAS, ESCRITOS. A divisão dos livros no câ­non hebraico é diferente da nossa. Consiste em .24 livros em vez dos nossos 39, isto porque são considerados um só livro, cada grupo dos seguintes:
-Os dois de Samuel....................................................... 1
-Os dois de Reis............................................................ 1
-Os dois de Crônicas..................................................... 1
-Os dois de Esdras e Neemias....................................... 1
-Os doze Profetas Menores........................................... 1
-Os demais livros do Antigo Testamento.................... 19
Total..........24
A disposição ou ordem dos livros no cânon hebraico é também diferente da nossa. Damos a seguir essa disposi­ção dentro da tríplice divisão do cânon, já mencionada (Lei, Profetas, Escritos). 1. LEI__________5 livros________Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. 52
2. PROFETAS _ 8 livros________Divididos em:
Primeiros Profetas: Jo­sué, Juizes, Samuel, Reis.
Ültimos Profetas: Isaías, Jeremias, Eze-quiel e os doze Profetas Menores.

3. ESCRITOS _ 11 livros________Divididos em:
Livros Poéticos: Sal­mos, Provérbios, Jó. Os Cinco Rolos: Can-tares, Rute, Lamenta­ções, Eclesiastes, Es­ter.
Livros Históricos: Da­niel, Esdras-Neemias, Crônicas.

Os Cinco Rolos eram assim chamados por serem sepa­rados, lidos anualmente em festas distintas:
- CANTARES, na Páscoa, em alusão ao Êxodo.
- RUTE, no Pentecoste, na celebração da colheita, em seu início.
- ESTER, na festa do Purim, comemorando o livra­mento de Israel da mão do mau Hamã.
- ECLESIASTES, na Festa dos Tabernáculos - festa de gratidão pela colheita.
- LAMENTAÇÕES, no mês de Abibe, relembrando a destruição de Jerusalém pelos babilônicos.
No cânon hebraico também os livros não estão em or­dem cronológica. Os judeus não se preocupavam com um sistema cronológico. Também pode haver nisto um plano divino.
A nossa divisão em 39 livros vem da Septuaginta, atra­vés da Vulgata Latina. A Septuaginta foi a primeira tradu­ção das Escrituras, feita do hebraico para o grego, cerca de 285 a.C. Também a ordem dos livros por assuntos, nas nos­sas Bíblias, vem dessa famosa tradução.
Nas palavras de Jesus, em Lucas 24.44, Ele chamou "Salmos" à última divisão do cânon hebraico, certamente porque esse livro era o primeiro dessa divisão (ver a página anterior). Segundo a nossa divisão, o Antigo Testamento começa com Gênesis e termina em Malaquias, porém, se­gundo a divisão do cânon hebraico, o primeiro livro é Gê­nesis e o último é Crônicas. Isto é visto claramente nas pa­lavras de Jesus em Mateus 23.35 - o caso de Abel está em Gênesis e o do filho de Baraquias está em Crônicas.

A Formação do Cânon do Antigo Testamento

O Cânon do Antigo Testamento foi formado num espa­ço de mais de mil anos (+ - 1046 anos) - de Moisés a Es­dras. Moisés escreveu as primeiras palavras do Pentateuco por volta de 1491 a.C. Esdras entrou em cena em 445 a.C. Esdras não foi o último escritor na formação do cânon do Antigo Testamento; os últimos foram Neemias e Mala­quias, porém, de acordo com os escritos históricos, foi ele que, na qualidade de escriba e sacerdote, reuniu os rolos canônicos, ficando também o cânon encerrado em seu tem­po.
A chamada Alta Crítica tem feito uma devastação com seu modernismo e suas contradições no que concerne à for­mação, fontes de autenticidade do cânon, especialmente o do Antigo Testamento, mutilando quase todos os seus li­vros. Em resumo, a Alta Crítica é a discussão das datas e da autoria dos livros. Ela estuda a Bíblia do lado de fora, externamente, baseada apenas em fontes do conhecimento humano. Por sua vez, a Crítica Textual, também conheci­da por Baixa Crítica, estuda o texto bíblico, e este somen­te, e, ao lado da Arqueologia, vem alcançando um progres­so valioso, posto à disposição do estudante das Escrituras. Por exemplo, a teoria de que a escrita era desconhecida nos dias de Moisés já foi destruída. E de ano para ano aumen­tam os achados nas terras bíblicas, evidenciando e com­provando as narrativas e fatos do Antigo Testamento. Me­diante tais provas irrefutáveis, os homens estão tendo mais respeito pelo Livro Sagrado! Toda a Bíblia vem sendo con­firmada pela pá do arqueólogo e pelos eruditos em antigüi­dades bíblicas. Coisas que pareciam as mais incríveis são hoje aceitas por todos, sem objeções. O estudante das Es­crituras deve estar prevenido contra a Alta Crítica.
A formação do cânon foi gradual. Houve, originalmen­te, a transmissão oral, como se vê em Jó 15.18. Jó é tido como o livro mais antigo da Bíblia. Daremos em seguida a seqüência da formação gradual do cânon do Antigo Testa­mento. Convém ter em mente aqui que toda cronologia bíblica é apenas aproximada. Já no Novo Testamento, há precisão de muitos casos. Essa cronologia vai sendo atuali­zada à medida em que os estudos avançam e a Arqueologia fornece informes oficiais:

1. Moisés, cerca de 1491 a.C, começou a escrever o Pentateuco, concluindo-o por volta de 1451 a.C. (Números 33.2). Mais textos relacionados com Moisés e sua escrita do Pentateuco: Êxodo 17.14; 24.4,7; 34.27. As partes do Pentateuco anteriores a Moisés, como o relato da Criação, todo o livro de Gênesis e parte de Êxodo, ele escreveu, ou lançando mão de fontes existentes (ver 2.4; 5.1), ou por re­velação divina. Gênesis 26.5 dá a entender que nesse tem­po já havia "mandamentos, preceitos e estatutos" escritos. Há, é certo, passagens do Pentateuco que foram acrescen­tadas posteriormente, como: Êxodo 11.3; 16.35; Deutero-nômio 34.1-12.
2. Josué, sucessor de Moisés (1443 a.C), escreveu uma obra que colocou perante o Senhor (Js 24.26).
3. Samuel (1095 a.C), o último juiz e também profeta do Senhor, escreveu, pondo seus escritos perante o Senhor (1 Sm 10.25). Certamente "perante o Senhor" significa que seus escritos foram depositados na Arca do Concerto com os demais escritos sagrados lá depositados (Êx 25.21; Hb 9.4).
4. Isaías (770 a.C.) fala do "livro do Senhor" (Is 34.16), e "palavras do livro" (Is 29.18). São referências às Escritu­ras na sua formação.
5. Em 726 a.C, os Salmos já eram cantados (2 Cr 29.30). O fato aí registrado teve lugar nesse tempo.
6. Jeremias, cuja chamada deu-se em 626 a.C, regis­trou a revelação divina (Jr 30.1,2). Tal livro foi queimado pelo mau rei Jeoaquim, em 607 a.C, porém Deus ordenou que Jeremias preparasse novo rolo, o que foi feito mediante seu amanuense Baruque (Jr 36.1,2,28,32; 45.1).
7. No tempo do rei Josias (621 a.C), Hilquias achou o "Livro da Lei" (2 Rs 22.8-10).
8. Daniel (553 a.C.) refere-se aos "livros" (Dn 9.2). Eram os rolos sagrados das Escrituras de então.
1. Zacarias (520 a.C.) declara que os profetas que o pre­cederam falaram da parte do Espírito Santo (7.12). Não há aqui referência direta a escritos, mas há inferência. Zaca­rias foi o penúltimo profeta do Antigo Testamento, isto é, profeta literário.

10. Neemias, nos seus dias (445 a.C), achou o livro das genealogias dos judeus que já haviam regressado do exílio (7.5); certamente havia outros livros.
11. Nos dias de Ester, o Livro Sagrado estava sendo es­crito (Et 9.32).
12. Esdras, contemporâneo de Neemias, foi hábil escri-ba da lei de Moisés, e leu o livro do Senhor para os judeus já estabelecidos na Palestina, de regresso do cativeiro babilônico (Ne 8.1-5). Conforme 2 Macabeus e outros escritos judaicos, Esdras presidiu a chamada Grande Sinagoga, que selecionou e preservou os rolos sagrados, determinan­do, dessa maneira, o cânon das Escrituras do Antigo Tes­tamento. (Ver Esdras 7.10,14.) Essa Grande Sinagoga era um conselho composto de 120 membros que se diz ter sido organizado por Neemias, cerca de 410 a.C, sob a presidên­cia de Esdras. Foi essa entidade que reorganizou a vida re­ligiosa nacional dos repatriados e, mais tarde, deu origem ao Sinédrio, cerca de 275 a.C. A Esdras é atribuída a trípli­ce divisão do cânon, já estudada. Foi nesse tempo, isto é, no tempo de Esdras, que os samaritanos foram expulsos da comunidade judaica (Ne 13) levando consigo o Pentateu-co, que é até hoje a Bíblia dos samaritanos. Isto prova que o Pentateuco era escrito canônico.
13. Encontramos profeta citando outro profeta, do que se infere haver mensagem escrita. (Comparar Miquéias 4.1-3 com Isaías 2.2-4.)
14. Filo, escritor de Alexandria (30 a.C. - 50 d.C) pos­suía todo o cânon do Antigo Testamento. Em seus escritos ele cita quase todo o Antigo Testamento.
15. Josefo, o historiador judeu (37-100 d.C), contempo­râneo de Paulo, diz, escrevendo aos judeus, no livro "Con­tra Appion": "Nós temos apenas 22 livros, contando a his­tória de todo o tempo; livros em que nós cremos, ou segun­do geralmente se diz, livros aceitos como divinos. Desde os dias de Artaxerxes ninguém se aventurou a acrescentar, ti­rar ou alterar uma única sílaba. Faz parte de cada judeu, desde que nasce, considerar estas Escrituras como ensinos de Deus". Josefo foi homem culto e judeu ortodoxo de li­nhagem sacerdotal. Foi governador da Galiléia e coman­dante militar nas guerras contra Roma. Presenciou a que­da de Jerusalém. Foi levado a Roma onde se dedicou a es­critos literários.
Ora, o Artaxerxes que ele menciona é o chamado Longí-mano, que reinou de 465-424 a.C. Isso coincide com o tem­po de Esdras e confirma as declarações de outras peças da literatura judaica que ensinam ter Esdras presidido a Grande Sinagoga que selecionou e preservou os rolos sagra­dos para a posterioridade. Josefo conta os livros do Antigo Testamento como 22 porque considera Juizes e Rute como 1 (um) livro; Jeremias e Lamentações também. Isto, para coincidir com o número de letras do alfabeto hebraico: 22.
16. Nos dias do Senhor Jesus, esse livro chamava-se Es­crituras (Mt 26.54; Lc 24.27,45; Jo 5.39), com as suas três conhecidas divisões: Lei, Profetas, Salmos (Lc 24.44). Era também chamado "A Palavra de Deus" (Mc 7.13; Jo 10.34,35). Note bem este título aplicado pelo próprio Se­nhor Jesus! Outro fato notável é a citação feita por Jesus em Mateus 23.35 que autentica todo o Antigo Testamento!
17. Os escritores do Novo Testamento reconhecem como canônicos os livros do Antigo Testamento, pois este é a miúdo citado naquele, havendo cerca de 300 referências diretas e indiretas. Os escritores do Novo Testamento refe­rem-se ao cânon do Antigo Testamento como sendo orácu­los divinos. (Compare Romanos 3.2; 2 Timóteo 3.16; Hebreus 5.12).
Cremos que, começando por Moisés, à proporção que os livros iam sendo escritos, eram postos no tabernáculo, jun­to ao grupo de livros sagrados. Esdras, como já dissemos, após a volta do cativeiro, reuniu os diversos livros e os colocou em ordem, como coleção completa. Destes originais eram feitas cópias para as sinagogas largamente dissemi­nadas.
Data do reconhecimento e fixação do cânon do Antigo Testamento
Em 90 d.C. Em Jâmnia, perto da moderna Jope, em Is­rael, os rabinos, num concilio sob a presidência de Joha-nan Ben Zakai, reconheceram e fixaram o cânon do Antigo Testamento. Houve muitos debates acerca da aprovação de certos livros, especialmente dos "Escritos". Note-se po­rém que o trabalho desse concilio foi apenas ratificar aqui­lo que já era aceito por todos os judeus através de séculos. Jâmnia, após a destruição de Jerusalém (70 d.C.) tornou-se a sede do Sinédrio - o supremo tribunal dos judeus. Livros desaparecidos, citados no texto do Antigo Testa­mento
É digno de nota que a Bíblia faz referência a livros até agora desaparecidos. (Veja Números 21.14; Josué 10.13 com 2 Samuel 1.18; 1 Reis 11.41; 1 Crônicas 27.24; 29.29; 2 Crônicas 9.29; 12.15; 13.22; 26.22; 33.19.) São casos cujo segredo só Deus conhece. Talvez um dia eles venham à luz como o MSS de Qümram, Mar Morto, em 1947.

II. O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

Como no Antigo Testamento, homens inspirados por Deus escreveram aos poucos os livros que compõem o câ­non do Novo Testamento. Sua formação levou apenas duas gerações: quase 100 anos. Em 100 d.C. todos os livros do Novo Testamento estavam escritos. O que demorou foi o reconhecimento canônico, isto motivado pelo cuidado e escrúpulo das igrejas de então, que exigiam provas conclu­dentes da inspiração divina de cada um desses livros. Ou­tra coisa que motivou a demora na canonização foi o surgi­mento de escritos heréticos e espúrios com pretensão de autoridade apostólica. Trata-se dos livros apócrifos do Novo Testamento, fato idêntico ao acontecido nos tempos do encerramento do cânon do Antigo Testamento.
A ordem dos 27 livros do Novo Testamento, como te­mos atualmente em nossas Bíblias, vem da Vulgata, e não leva em conta a seqüência cronológica. 58
Livros desaparecidos, citados no Novo Testamento. Há também livros mencionados no Novo Testamento até ago­ra desaparecidos (1 Co 5.9; Cl 4.16).
a. Ás Epístolas de Paulo. Foram os primeiros escritos do Novo Testamento. São 13: de Romanos a Filemom. Fo­ram escritas entre 52 e 67 d.C. Pela ordem cronológica, o primeiro livro do Novo Testamento é 1 Tessalonicenses, escrito em 52 d.C. 2 Timóteo foi escrita em 67 d.C, pouco antes do martírio do apóstolo Paulo em Roma. Esses livros foram também os primeiros aceitos como canônicos. Pedro chama os escritos de Paulo de "Escrituras" - título aplica­do somente à Palavra inspirada de Deus! (2 Pe 3.15,16).
b. Os Atos dos Apóstolos. Escrito em 63 d.C, no fim dos dois anos da primeira prisão de Paulo em Roma (At 28.30).
c. Os Evangelhos. Estes, a princípio, foram propagados oralmente. Não havia perigo de enganos e esquecimento porque era o Espírito Santo quem lembrava tudo e Ele é infalível (Jo 14.26). Os Sinóticos foram escritos entre 60 a 65 d.C. Marcos, em 65. Em 1 Timóteo 5.18, Paulo, escre­vendo em 65 d.C, cita Mateus 10.10. João foi escrito em 85. Entre Lucas e João foram escritas quase todas as epís­tolas. Note-se que Paulo chama Mateus e Lucas de "Escri­turas" ao citá-los em 1 Timóteo 5.18; o original dessa cita­ção está em Mateus 10.10 e Lucas 10.7.
d. As Epístolas, de Hebreus a Judas, foram escritas en­tre 68 e 90 d.C. Quanto à autoria de Hebreus, só Deus sabe de fato. Agostinho (354-430 d.C), bispo de Hipona, África do Norte, afirma que seu autor é Paulo. As igrejas orientais atribuíram-na a Paulo, mas as ocidentais, até o IV século recusaram-se a admitir isto. A opinião ainda hoje é a favor de Paulo. Orígenes (185-254) - o homem mais ilustre da igreja antiga, e, anterior a Agostinho - afirma: "Quem a escreveu só Deus sabe com certeza".
e. O Apocalipse. Escrito em 96 d.C, durante o reinado do imperador Domiciano.
Muitos livros antes de serem finalmente reconhecidos como canônicos foram duramente debatidos. Houve muita relutância quanto às epístolas de Pedro, João e Judas bem como quanto ao Apocalipse. Tudo isto tão-somente revela o cuidado da Igreja e também a responsabilidade que en­volvia a canonização. Antes do ano 400 d.C, todos os livros estavam aceitos. Em 367, Atanásio, patriarca de Alexan­dria, publicou uma lista dos 27 livros canônicos, os mes­mos que hoje possuímos; essa lista foi aceita pelo Concilio de Hipona (África) em 393.
Data do reconhecimento e fixação do cânon do Novo
Testamento
Isso ocorreu no III Concilio de Cartago, em 397 d.C. Nessa ocasião, foi definitivamente reconhecido e fixado o cânon do Novo Testamento. Como se vê, houve um ama­durecimento de 400 anos.
A necessidade da mensagem escrita do Novo Testa­mento
A mensagem da Nova Aliança precisava ter forma es­crita como a da Antiga. Após a ascensão do Senhor Jesus, os apóstolos pregaram por toda parte sem haver nada es­crito. Sua Bíblia era o Antigo Testamento. Com o correr do tempo, o grupo de apóstolos diminuiu.
O Evangelho espa­lhou-se. Surgiu a necessidade de reduzi-lo à forma escrita, para ser transmitido às gerações futuras. Era o plano de Deus em marcha. Muitas igrejas e indivíduos pediam ex­plicações acerca de casos difíceis surgidos por perturba­ções, falsas doutrinas, problemas internos, etc. (Ver 1 Coríntios 1.11; 5.1; 7.1.)
Os judeus cumpriram sua missão de transmitir ao mundo os oráculos divinos (Rm 3.2). A Igreja também cumpriu sua parte, transmitindo as palavras e ensinos do Senhor Jesus, bem como as que Ele, pelo Espírito Santo inspirou aos escritores sacros. Ele mesmo disse: "Tenho muito que vos dizer... mas o Espírito de verdade... dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir" (Jo 16.12,13).
Dão testemunho da existência de livros do Novo Testa­mento, em seu tempo, os seguintes cristãos primitivos, cu­jas vidas coincidiram com a dos apóstolos ou com os discí­pulos destes:
Clemente de Roma, na sua carta aos Coríntios, em 95 d.C. cita vários livros do Novo Testamento.
Policarpo, na sua carta aos Filipenses, cerca de 110 d.C, cita diversas epístolas de Paulo.
Inácio, por volta de 110, cita grande número de livros em seus escritos.
Justino Mártir, nascido no ano da morte de João, escre­vendo em 140 d.C, cita diversos livros do Novo Testamen­to.
Irineu (130-200 d.C), cita a maioria dos livros do Novo Testamento, chamando-os "Escrituras".
Orígenes (185-254 d.C), homem erudito, piedoso e via­jado, dedicou sua vida ao estudo das Escrituras. Em seu tempo, os 27 livros já estavam completos; ele os aceitou, embora com dúvida sobre alguns (Hebreus, Tiago, 2 Pe­dro, 2 e 3 João).

III. DATAS E PERÍODOS SOBRE O CÂNON EM GE­RAL

O Antigo Testamento foi escrito no espaço de mais ou menos 1.046 anos; de 1491 a 445 a.C, isto é, de Moisés a Esdras. A data 445 é apenas um ponto geral de referência cronológica quanto ao encerramento do cânon do Antigo Testamento.


Se entrarmos em detalhes sobre o último li­vro do Antigo Testamento em ordem cronológica - Mala-quias, teremos uma variação de espaço de tempo como ve­remos a seguir. O Pentateuco, como já vimos, foi iniciado cerca de 1491 a.C. Malaquias, o último livro do Antigo Testamento por ordem cronológica, foi escrito após 445, no final do governo de Neemias e do sacerdócio de Esdras. Ora, isto foi a partir de 432, quando Neemias regressou a Jerusalém, procedente da Pérsia, para onde tinha ido em 434, a fim de renovar sua licença (Ne 13.6). É a partir des­se ano que Malaquias entra em cena. Quando ele escreveu, talvez Neemias não estivesse mais na Palestina, porque não o menciona em seu livro, como fazem Ageu e Zacarias, profetas seus antecessores, os quais mencionam Zorobabel e Josué, respectivamente, governador e sacerdote dos repa­triados. (Ver Zacarias capítulos 3 e 4 e Ageu 1.1.)
Malaquias não menciona nominalmente Neemias, ape­nas menciona o "Governador" (Ml 1.9). O próprio livro de Malaquias apresenta outras evidências internas que o co­locam de 432 em diante, como passamos a mostrar:
a. Em Malaquias 2.10-16, vê-se que os casamentos ilíci­tos que Esdras corrigira antes de Neemias, em 516 (Ed 9 e 10), estavam ocorrendo outra vez. Isto coincide com o esta­do descrito em Neemias 13, acontecido em 432.
b. Em Malaquias 3.6-12, havia pobreza no tesouro do templo. Situação idêntica à de Neemias 13, reinante em 432.
c. As referências de Malaquias 1.13; 2.17; 3.14, indicam que o culto levítico já havia sido restaurado há bastante tempo. Essa restauração temo-la ampliada em Neemias 12.44 ss.
Portanto, Malaquias deve ter sido escrito cerca de 432 a.C. Repetimos o que dissemos há pouco: a data 445 é ape­nas um ponto geral de referência quanto ao encerramento do cânon do Antigo Testamento. Foi esse o ano em que Es­dras iniciou seu grande ministério entre os repatriados de Israel. Se descermos a detalhes quanto ao livro de Mala­quias, partiremos de 432. Malaquias é o último livro do Antigo Testamento, quanto à ordem cronológica. Quanto à disposição dos livros no corpo do cânon hebraico, o último livro é 2 Crônicas, como já mostramos.

O Novo Testamento foi completado em menos de 100 anos, pois seu último livro, o Apocalipse, foi escrito cerca de 96 d.C. Isto é, dá um total de 1.142 anos para a forma­ção de ambos os Testamentos (1.046 + 96). (Leve-se em conta que a cronologia bíblica é sempre aproximada, pois os povos orientais não tinham um sistema fixo de compu­tação de datas.)
Quando se fala do espaço total de tempo, que vai da es­crita do Pentateuco ao Apocalipse, é preciso intercalar os 400 anos do Período Interbíblico ocorrido entre os Testa­mentos, o que dará um total de 1.542 anos (1.046 + 96 + 400). Por isso se diz que a Bíblia foi escrita no espaço de 16 séculos. Este é o período no qual o cânon foi completado. Noutras palavras: o cânon abrange na História um total de 1542 anos, porém foi escrito em 1.142 anos, aproximada­mente.

IV. OS LIVROS APÓCRIFOS

Nas Bíblias de edição da Igreja Romana, o total de li­vros é 73, porque essa igreja, desde o Concilio de Trento, em 1546, incluiu no cânon do Antigo Testamento 7 livros apócrifos, além de 4 acréscimos ou apêndices a livros canô-nicos, acrescentando, assim, ao todo, 11 escritos apócrifos.
A palavra "apócrifo" significa, literalmente, "escondi­do", "oculto", isto em referência a livros que tratavam de coisas secretas, misteriosas, ocultas. No sentido religioso, o termo significa "não genuíno", "espúrio", desde sua apli­cação por Jerônimo. Os apócrifos foram escritos entre Ma-laquias e Mateus, ou seja, entre o Antigo e o Novo Testa­mento, numa época em que cessara por completo a revela­ção divina; isto basta para tirar-lhes qualquer pretensão de canonicidade. Josefo rejeitou-os totalmente. Nunca fo­ram reconhecidos pelos judeus como parte do cânon hebraico. Jamais foram citados por Jesus nem foram reco­nhecidos pela igreja primitiva.
Jerônimo, Agostinho, Atanásio, Júlio Africano e outros homens de valor dos primitivos cristãos, opuseram-se a eles na qualidade de livros inspirados. Apareceram a pri­meira vez na Septuaginta, a tradução do Antigo Testa­mento feita do hebraico para o grego. Quando a Bíblia foi traduzida para o latim, em 170 d.C, seu Antigo Testamen­to foi traduzido do grego da Septuaginta e não do hebraico.

Quando Jerônimo traduziu a Vulgata, no início do Século V (405 d.C), incluiu os apócrifos oriundos da Septuaginta, através da Antiga Versão Latina, de 170, porque isso lhe foi ordenado, mas recomendou que esses livros não pode­riam servir como base doutrinária.
São 14 os escritos apócrifos: 10 livros e 4 acréscimos a livros. Antes do Concilio de Trento, a Igreja Romana acei­tava todo, mas depois passou a aceitar apenas 11: 7 livros e os 4 acréscimos. A Igreja Ortodoxa Grega mantém os 14 até hoje.

Os 7 livros apócrifos constantes das Bíblias de edição católico-romana são:
1) TOBIAS (Após o livro canônico de Esdras)
2) JUDITE (após o livro de Tobias)
3) SABEDORIA DE SALOMÃO (após o livro canônico
4) ECLESIÁSTICO (após o livro de Sabedoria)
5) BARUQUE (após o livro canônico de Jeremias)
6) 1 MACABEU
7) 2 MACABEU (ambos, após o livro canônico de Ma-laquias)
Os 4 acréscimos ou apêndices são:
1) ESTER (a Ester, 10.4 - 16.24)
2) CÂNTICO DOS TRÊS SANTOS FILHOS (a Da­niel, 3.24-90)
3) HISTÓRIA DE SUZANA (a Daniel, cap. 13) e
4) BEL E O DRAGÃO (a Daniel, cap. 14)
Como já foi dito, dos 14 apócrifos, a Igreja Romana aceita 11 e rejeita 3, isto, após 1546 d.C. Os livros rejeita­dos são:
1) 3 ESDRAS
2) 4 ESDRAS E
3) A ORAÇÃO DE MANASSES
Os livros apócrifos de 3 e 4 Esdras são assim chamados porque nas Bíblias de edição católico-romana o livro de ESDRAS é chamado 1 ESDRAS; o de NEEMIAS, de 2 ESDRAS.

A Igreja Romana aprovou os apócrifos em 18 de abril de 1546, para combater o movimento da Reforma Protestan­te, então recente. Nessa época, os protestantes combatiam violentamente as novas doutrinas romanistas: do Purgató­rio, da oração pelos mortos, da salvação mediante obras, etc. A Igreja Romana via nos apócrifos bases para essas doutrinas, e, apelou para eles, aprovando-os como canôni-cos.
Houve prós e contras dentro da própria Igreja de Roma. Nesse tempo os jesuítas exerciam muita influência no cle­ro. Os debates sobre os apócrifos motivaram ataques dos dominicanos contra os franciscanos. O cardeal Pallavaci-ni, em sua "História Eclesiástica", declara que em pleno concilio, 40 bispos, dos 49 presentes, travaram luta corpo­ral, agarrados às barbas e batinas uns dos outros... Foi nes­se ambiente "espiritual" que os apócrifos foram aprova­dos! A primeira edição da Bíblia romana com os apócrifos deu-se em 1592, com autorização do Papa Clemente VIII.
Os reformadores protestantes publicaram a Bíblia com os apócrifos colocando-se entre o Antigo e Novo Testamen­to; não como livros inspirados, mas bons para a leitura e de valor literário e histórico. Isto continuou até 1629. A famo­sa versão inglesa de King James,de 1611, ainda os conser­vou. Após 1629, os evangélicos os omitiram de vez nas Bíblias editadas, para evitar confusão entre o povo simples que nem sempre sabe discernir entre um livro canônico e um apócrifo.
A aprovação dos apócrifos pela Igreja Romana foi uma intromissão dos católicos em assuntos judaicos, porque, quanto ao cânon do Antigo Testamento, o direito é dos ju­deus e não de outros. Além disso, o cânon do Antigo Testa­mento estava completo e fixado há muitos séculos.
Entre os católicos corre a versão de que as Bíblias de edição protestante são falsas. Quem, contudo, comparar a Bíblia editada pelos evangélicos com a editada pelos cató­licos há de concordar em que as duas são iguais, exceto na linguagem e estilo, que são peculiares a cada tradução. O que alegam contra a nossa Bíblia é que lhe faltam livros e partes de outros, mas essa falta é de livros e de parte de li­vros apócrifos, como mencionamos.

OUTROS LIVROS APÓCRIFOS

Há ainda outros escritos espúrios relacionados tanto com o Antigo como com o Novo Testamento. São chama­dos pseudo-epigráficos. Os do Antigo Testamento perten­cem à última parte do período interbíblico. Todos os livros dessa classe apresentam-se como tendo sido escritos por santos de ambos os Testamentos, daí seu título: pseudo-epigráficos. São na maioria, de natureza Apocalíptica. Nunca foram reconhecidos por nenhuma igreja.
Os principais do Antigo Testamento chegam a 26.


Os referentes ao período do Novo Testamento também nunca foram reconhecidos por ninguém como tendo cano-nicidade. São cheios de histórias ridículas e até indignas de Cristo e seus apóstolos. Essas histórias são muito explo­radas pela gente simplória e crédula. Desse período há de tudo: evangelhos, epístolas, apocalipse, etc.
Os principais somam 24.
Os que estudam a Bíblia devem estar acautelados do seguinte, concernente aos livros canônicos e apócrifos em geral:
• Aos nossos 39 livros canônicos do Antigo Testamento, os católicos os chamam de protocanônicos.
• Os 7 livros, que chamamos de apócrifos, os católicos os chamam de deuterocanônicos.
• Os livros que chamamos de pseudo-epigráficos, eles os chamam de apócrifos.
ATE A PROXIMA!!!

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